O agricultor mundialmente reconhecido pela criação da técnica de cultivo foi convidado a aplicá-la ao condomínio Aldeia do Vale, referência em convivência entre homem e natureza
Cada espécie vegetal tem sua função na natureza e colabora para o equilíbrio ambiental. Se cultivadas em consórcio, colaboram entre si e trazem benefícios como a manutenção e recuperação de lençóis freáticos e nascentes, além de manter o solo rico em nutrientes. Espécies arbóreas e alimentícias podem ser plantadas juntas, gerando assim a produção de alimentos enquanto a floresta cresce.
Estes são princípios da agricultura sintrópica, conceito desenvolvido pelo suiço Ernst Götsch, que se tornou mundialmente reconhecido pelo método. Convidado pela Associação dos Amigos do Residencial Aldeia do Vale (Saalva), ele veio à Goiânia pela primeira vez, para analisar as áreas verdes e reservas ambientais contidas num dos condomínios horizontais mais tradicionais da capital, o Aldeia do Vale, idealizado e lançado pela Tropical Urbanismo.
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Ernst Götsch propõe medidas para associar agricultura sintrópica e urbanismo em Goiânia
Eduarda Leite
“A vinda do Ernst foi motivada pelo nosso desejo de tornar nossas áreas verdes cada vez mais mais harmônicas ambientalmente, considerando a fauna, a flora, os recursos hídricos e os próprios moradores”, declarou Luis Henrique Vita, coordenador, diretor de meio ambiente da Saalva.
Ao longo de dois dias de sua visita, Ernst proporcionou um verdadeiro curso imersivo de conscientização ambiental, rotacionamento de culturas e biodiversidade aos representantes da Saalva e aos moradores do condomínio que se disponibilizaram a acompanhar as trilhas e palestras.
O agricultor comentou as espécies que melhor se adaptariam à cada região, o modo de cultivo ideal – considerando o índice de precipitação da chuva, ordem de plantio, interação de culturas e incidência de luz solar -, propôs soluções para harmonizar, ainda mais, a convivência dos moradores com a fauna e flora locais, e ainda recomendou cuidados extras para as nascentes presentes no condomínio, que ocupa área superior a 4,5 milhões e possui 750 mil metros quadrados só de reserva, fora os parques e área de paisagismo. No perímetro, existem três nascentes.
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Moradores do Condomínio Aldeia do Vale e representantes da Saalva acompanharam Ernst Götsch em sua visita ecológica pelas áreas verdes do condomínio
Raquel Pinho
Paulo Roberto da Costa, sócio do Grupo Tropical, responsável pela implantação do projeto e atualmente morador do condomínio, lembra que o Aldeia do Vale foi implantado com baixa densidade, no máximo 20% de ocupação da área. O restante do lote é de área permeável. “Foi um sonho criar um condomínio ecológico porque a nossa essência é essa, o goiano aprecia estar perto da natureza”, lembra.
Casas sem muros e com grandes afastamentos entre si abriram espaço para que verde se tornasse um grande protagonista do lugar. A vegetação original da área foi mantida e o empreendedor plantou mais 100 mil árvores na época da implantação. As intervenções foram feitas apenas para as vias, áreas comuns e para as casas do condomínio. A cada árvore retirada para a construção das casas, devem ser plantadas outras três. “Então, a preocupação ambiental está no DNA do Aldeia do Vale, e agora os moradores convidaram Ernst para aprimorar este compromisso com a natureza”, diz Paulo Roberto da Costa, sócio do Grupo Tropical.
Para ele, o engajamento dos moradores é fundamental para uma ocupação responsável. “O sucesso de um empreendimento como este é resultado de um projeto bem elaborado e implantado. Os outros 50% vêm do compromisso das pessoas com o lugar, e o convite do especialista a partir da Saalva representa isso muito bem”, conclui Paulo Roberto.
Esta foi a primeira vez que Ernst aplicou o conhecimento em agricultura sintrópica no meio urbano. “É uma honra para mim e um grande desafio de dialogar com público completamente diferente. Ao mesmo tempo, é uma forma de contribuir [com as cidades] porque 90% da população [brasileira] vive na zona urbana”, disse. Durante sua visita, Ernst conheceu também a técnica dos swales que estão sendo implantados nos novos lançamentos desenvolvidos pela Raiz Urbana, empresa do Grupo Tropical. Ele visitou as obras do Aldeia Santerê, em Terezópolis de Goiás, que contará com esta técnica de drenagem da água das chuvas, inspiradas nas curvas de nível da agricultura. O futuro condomínio faz parte da linha Aldeia, terá características do Aldeia do Vale e virá inovações em sustentabilidade.
Quem é Ernst Götsch?
Na década de 1980, Göstch encerrou suas pesquisas em melhoramento genético na Suíça, seu país de origem, pois estava convicto de que era possível usufruir de melhores resultados com a agricultura se o plantio fosse feito em harmonia com o bioma nativo da região. Assim, adotou o Brasil como sua nova terra, e mudou-se para a Fazenda Fugidos da Terra Seca – hoje conhecida como Fazenda Olhos d’Água – em Piraí do Norte, região do cacau na Bahia, onde aplicou seu método de agricultura.
O proprietário anterior da fazenda realizava exploração madeireira no terreno para abastecer uma serraria própria, e quando não havia mais o que cortar, converteu a terra em pastagens para porcos e também para o cultivo de mandioca. Isso esgotou o solo da propriedade de 510 hectares e assoreou 14 riachos que cruzavam a fazenda.
A partir dessas condições desafiadoras, Ernst desenvolveu a agricultura sintrópica na fazenda e amenizou o débito que a sociedade tem com o bioma da Caatinga, que, de acordo com a Articulação Semiárido Brasileiro (Asa), já perdeu cerca de 53,62% de sua cobertura vegetal original. Em sua propriedade, foi percebido um aumento de 70% na quantidade de chuvas na fazenda Olho d’Água, e o reflorestamento da propriedade de Ernst fez com que chovesse mais em áreas que ficam a até 8 km a oeste da fazenda. Os efeitos foram reconhecidos internacionalmente, por países como Portugal, Alemanha e Espanha.
“Ao fazer a associação de culturas de maneira eficiente, criamos um ecossistema mais autossuficiente. Se uma espécie de porte menor for cultivada aos pés de uma árvore de grande porte, na estação de queda das folhas a menor vai ter mais umidade e matéria orgânica, o que diminui a necessidade de irrigar com frequência e garante frutos de maior qualidade”, explicou Ernst durante a consultoria, sendo este um dos vários exemplos de como a agricultura sintrópica poderia ser implantada em contextos urbanos.
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