Artista apresenta obras que exploram a instabilidade e a permanência dos corpos no espaço
Mecânica dos meios contínuos, individual de Marcius Galan, em cartaz a partir do dia 27 de março de 2025, apresenta um conjunto de obras, a maioria inéditas, que exploram o conceito de limite da resistência. São objetos e instalações que, aparentando estar à beira do colapso, continuam a cumprir seus movimentos e funções específicas. O título refere-se a uma área da física dedicada à formulação matemática dos fenômenos relacionados ao movimento e à deformação dos corpos sob a ação de agentes externos.
A extensa e diversa produção de Marcius Galan assimila conceitos e linguagens do cotidiano para reelaborar o espaço, tema central de sua obra. Seus trabalhos integram as coleções de MAM-SP, MAM-RJ, MASP, Pinacoteca de São Paulo, MAC-USP, Museum of Fine Arts Houston, Phoenix Art Museum e Inhotim. Participou de exposições em instituições como Palais de Tokyo, Wexner Center, Guggenheim Bilbao, Museu Serralves, Americas Society, Bienal de São Paulo, Bienal do Mercosul e Bienal das Américas. Foi vencedor do Prêmio PIPA em 2012 e fez residência na Gasworks Londres; e do prêmio Iberê Camargo em 2004 com residência na School of the Art Institute of Chicago.
Como programa público, uma conversa entre o artista, a curadora e pesquisadora Heloisa Espada, que assina o texto da exposição, e o colecionador e pesquisador Fabio Faisal acontecerá no dia 10 de maio, às 11h.

Infinito, 1998.
Créditos: Estúdio em obra
Quanto mais escura é a noite, mais vigorosa é a luz dos vaga-lumes
A primeira obra da mostra é Cinema (2025), que ocupa a sala principal da galeria, completamente às escuras. Um sistema de luz suspenso do teto simula o voo de dois vaga-lumes. Esses pequenos focos luminosos emitem sinais em um código de comunicação que só pode existir na ausência de luz.
Além de explorar a percepção cinética, na qual o cérebro humano interpreta as piscadas de luz como movimento, Cinema presta homenagem a Pier Paolo Pasolini (1922-1975). O cineasta italiano, em carta a um amigo, comparou o desaparecimento dos vaga-lumes à extinção da resistência ao fascismo na Itália. Segundo ele, a luz da propaganda fascista era tão intensa e uniforme que apagava nuances, a poesia e a própria resistência política.
Filmado no deserto, o vídeo Anti-horário (2025) registra um pequeno galho seco que, movido pelo vento, desenha um círculo perfeito na areia. A direção do vento muda constantemente, alterando o sentido do desenho. O som desempenha um papel essencial na obra: cada mudança de direção é pontuada por um ruído, reforçando a percepção da instabilidade do movimento. Infinito (1999), único trabalho pertencente a uma produção anterior do artista, é um tubo de vidro moldado na forma do símbolo do infinito, cujo ciclo contínuo é interrompido por um volume de cera que obstrui sua passagem, rompendo a ideia de continuidade.

Galan_Cinema_2025_detalhe_Ft_Edouard Fraipont
A resistência dos materiais
Na Sala 2, os trabalhos lidam com a materialidade de maneira distinta. São obras feitas com pedras, carvão e ferro, nas quais há a intenção de confrontar o peso e a resistência destes materiais. Memória geológica (2025) consiste em duas pedras cortadas por uma linha de aço que se atraem para um ponto comum. A interação entre os vértices das linhas sugere uma força magnética que parece cortar as rochas, que, por sua vez, resistem ao movimento, criando uma tensão entre atração e oposição. Apesar da aparente dinâmica, a obra permanece estática.
De forma semelhante, Força resultante (2025) apresenta uma haste de madeira em uma posição aparentemente impossível, desafiando a gravidade. Uma linha de ferro sugere a manutenção desse equilíbrio ao se aproximar de um prego na parede, sem tocá-lo. A obra captura o instante de instabilidade entre a iminência da queda e um ponto de segurança.

Baixa resolução, 2025. Foto: Estúdio em obra
Baixa resolução (2025) é uma grande composição de parede feita com cubos de madeira e carvão. As áreas chamuscadas evocam tanto a vista aérea de uma região devastada por queimadas quanto explosões pixeladas de videogames antigos, congelando um momento de destruição em linguagem básica que remete aos primórdios da representação virtual.
Por fim, Orbital (2025) é uma grande composição de placas pintadas com tinta automotiva preta sobre as quais são dispostas pedras minerais. Esses elementos determinam as órbitas de objetos cortantes que riscam a superfície industrial dos módulos. O atrito entre os materiais desenha padrões geométricos similares aos traços de um compasso, criando um contraste entre a delicadeza das linhas e a agressividade do movimento que as inscreve na superfície.
Ao longo da exposição, cada obra aborda o conceito de resistência, explorando a instabilidade dos materiais, a tensão entre equilíbrio e colapso, e a dinâmica entre permanência e efemeridade. Assim como na mecânica dos meios contínuos, os trabalhos investigam a relação entre forças externas e suas consequências sobre corpos físicos, levantando questões sobre fragilidade, persistência e transformação.
Sobre a Luisa Strina
Fundada em 1974, a Luisa Strina tem 50 anos de existência e ajudou a promover as carreiras de uma geração de novos artistas conceituais do Brasil, incluindo Antonio Dias, Cildo Meireles, Tunga e Waltercio Caldas. Em 1992, a galeria foi a primeira da América Latina a participar da feira Art Basel.
Luisa Strina começou a trabalhar com artistas brasileiros emergentes, como Alexandre da Cunha, Fernanda Gomes e Marepe. Ao longo dos anos 2000, o grupo foi ampliado para incorporar nomes latino-americanos — Jorge Macchi, Juan Araujo e Pedro Reyes — e artistas mulheres já estabelecidas, como Laura Lima, Leonor Antunes e Renata Lucas. Na última década, a consolidou a sua trajetória com a representação de nomes influentes incluindo Alfredo Jaar e Anna Maria Maiolino, assim como artistas mais jovens, como Bruno Baptistelli e Panmela Castro.
Marcius Galan: Mecânica dos meios contínuos
Abertura: 27 de março, quinta-feira, das 18h às 21h
Visitação até 10 de maio de 2025
Conversa entre o artista, a curadora e pesquisadora Heloisa Espada, que assina o texto da exposição, e o colecionador e pesquisador Fabio Faisal: 10 de maio, sábado, às 11h.
Horários: segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 10h às 17h
Luisa Strina – Rua Padre João Manuel, 755, São Paulo
Horário: Segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 17h Entrada gratuita
Mais informações: www.luisastrina.com.br
Instagram: @galerialuisastrina
Atendimento à imprensa:
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